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segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Negro Drama Brasileiro


   Ainda não temos dados oficiais do Censo 2010 (IBGE) sobre a população que "se declara" negra no Brasil. Afirmo que "se declara", pois o IBGE ineditamente providenciou uma maneira de analisar a cor do indivíduo dando a oportunidade, de fato, ao mesmo de se declarar: BRANCO, NEGRO, AMARELO, PARDO OU INDÍGENA. Foi intensa a mobilização dos setores conscientizadores e ativistas negros no intuito de persuadir os indivíduos negros a se declararem como tal. 
   Independente dos resultados numéricos, nosso país é todo fundamentado (física e socialmente; salvo a região sul brasileira) pela cultura negra, obviamente advinda da África como escravos na época da colonização. Não há registros precisos de quantos foram aprisionados e forçados a virem para as américas (deixando um rastro de sangue e desorganização geopolítica irreparáveis no continente africano). Fato é que após anos de escravidão, em 1888 (apesar dos redatores do ENEM 2010 afirmarem ter ocorrido em data diversa) o negro ganhou sua tão sonhada "liberdade". Novamente o recurso das aspas é usado como ironia, pois o negro nunca foi de fato livre neste país.
   Primeiramente, não possuímos um sentimento de nacionalismo (grande parte também devida a nossa extensa geografia). Nossa república fora declarada por um "conchavo" político sem nenhuma luta aguerrida por valores de etnia. Reflita, os moradores do sudeste (cosmopolitanos) nem ao menos conseguem se identificar culturalmente com aqueles do norte (isolados sócio-economicamente). Os sulista se julgam habilitados para declarar uma independência do restante do país. O nordeste é dotado de tamanha peculiaridade (inclusive dentro de si mesmo) que parece efetivamente um outro país. Não amamos uns aos outros. Não conhecemos uns aos outros. Nesse imbrólio tupiniquim, os negros foram alforriados fisicamente também por um arranjo político-econômico com os ingleses. Entretanto, eles continuaram em estado de "escravidão moral", supliciados com más condições de vida, falta de oportunidades, vitimados pela ordem social e econômica.
   Segundo, a já fustigada população negra padeceu ao longo dos anos por essa traumática "libertação". Por conseguinte, nunca foram oferecidos bons posto de trabalho, boas escolas, boas moradias ou condições sanitárias básicas. Refugiados nas periferias, a criminalidade cresceu em números alarmantes já durante a República Velha. 
   Hoje, por incrível que pareça, vivemos uma realidade que guarda uma enorme similitude com aquela vivida no final do século XIX. Estigmatizado, o negro não detém o capital financeiro, social e político. Rebaixado, o negro não possui acesso à boas instituições de ensino (menção honrosa às ações afirmativas em favor aos direitos dos negros e à correção as avessas através das cotas universitárias - temas para outro artigo). Preconceituado, o negro não sabe o que é andar sem ser temido e temer a repressão policial (infelizmente muitas vezes não por acaso). 
   Em minha modesta opinião, devemos ressuscitar as ideias de Martin Luther King (http://www.cedine.rj.gov.br/arquivos/martin_eu_tenho_um_sonho.pdf - vale a pena ler na íntegra). O emérito reverendo batista atiçou o brio da população negra norte-americana que, pasmem, vivia em condições ainda piores do que a brasileira (refiro-me à discriminação institucionalizada e legitimada). Neste sentido temos as palavras de Jean Marie Muller:
   "[...] O verbo agredir tem a mesma etimologia em português e francês: ele vem do latim ad-gradi, que significa  'caminhar em direção a', 'avançar em direção a'. Tomemos a imagem clássica do senhor e do escravo. Enquanto o escravo está submisso ao seu senhor, não existe conflito. Nesse cenário é que prevalece a 'ordem estabelecida' e reina 'a paz social'. O conflito sobrevém somente a partir do momento em que o escravo demonstra agressividade suficiente para ousar avançar em direção ao seu senhor, para enfrentá-lo e reivindicar seus direitos e sua liberdade [...]"
   "[...] Numa situação de injustiça, é preciso criar o conflito para estabelecer a justiça. Tomemos a situação dos negros norte-americanos, no início dos anos 1960. Os negros, em última análise, acomodavam-se na segregação racial do poder branco que pesava sobre eles. Eles estavam mais próximos da resignação do que da revolta. Não havia conflito. E Martin Luther King foi justamente acusado de tê-lo criado e, assim, perturbado a ordem pública. No entanto, não há dúvidas de que, para reivindicar os direitos da comunidade negra, foi preciso criar o conflito. Martin Luther King despertou a agressividade dos negros para que ousassem 'avança em direção' aos brancos e reivindicassem a liberdade[...]"¹
   Sou ainda a favor (mesmo que de forma utópica e inimaginada) de concedermos uma espécie de indenização aos negros brasileiros descendentes daqueles mesmos escravos que tanto labutaram e construíram nosso país. 
   Apesar do meu externo ser branco (e por isso ter me declarado BRANCO), possuo 50% de sangue negro legítimo (vindo do meu lado paterno - que ainda há de figurar na sessão "pessoas que admiro"), fato que muito me orgulha e dá prazer. Somos todos iguais. Nossas almas não possuem cor. Não é a forma do cabelo, dos lábios ou ainda a cor da minha pele que definem meu caráter.
   "Eu tenho um sonho..."

Referências Bibliográficas

1 - JEAN MARIE MULLER, Revista Dialogia, v.5, pág. 26 e 27 São Paulo, 2006.
   
Guilherme Abreu

Um comentário:

  1. Já é um começo:

    http://www.em.com.br/app/noticia/politica/2011/02/07/interna_politica,208270/ministro-pede-perdao-a-africanos-no-forum-social.shtml

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