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quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

O poder de uma Copa

   Recordo-me com certa nostalgia das vésperas de Copa do Mundo quando tinha poucos anos de vida. Todo o país se comovia. Pintavam-se ruas e paredes com os slogans e os mascotes daquela copa, inúmeras bandeiras e bandeirolas eram penduradas nas ruas e casas, famílias inteiras se reuniam em frente à TV, mulheres e crianças pintavam seus rostos em clima de festa. Certamente era (e ainda é ) um momento de "pseudo-patriotismo" em nossa nação. Mas o que há de tão importante nesse evento esportivo? Para nós nada além da possibilidade real de vencermos e demonstrarmos para todo o mundo algo de valor. Contudo, em 2014 (não considero aqui 1950, pois não havia FIFA ou o grande volume de dinheiro envolvido em questão ) veremos (aliás, começamos a ver desde já ) o poder e o marco de sediar uma copa. Ou seja, não mais seremos espectadores-torcedores daquele "espetáculo" de organização esportiva, mas poderemos contemplar essas maravilhas em terras pátrias.
   O país sede não somente recebe milhares de desportistas, jornalistas e visitantes; além disso, recebemos quantias volumosas de investimento. Parte do próprio poder público (dinheiro nosso na verdade), parte de investidores privados e ainda da própria FIFA. Basicamente, todos os setores econômicos e sociais são "afetados" pelo movimento copista. 
   Para a camada social mais baixa representa oportunidades de emprego, seja na construção civil ou nos inúmeros cargos criados em hotéis, agências de turismo, tradutores básicos etc. Para os mais abastados e os grandes investidores representa oportunidade única de ganhar ainda mais dinheiro.
   Entretanto existem ainda dois aspectos importantes para todos os cidadãos brasileiros que gostaria de focar: a alteração (espero que pra melhor) na infraestrutura do país e a ingerência pública direta no poder paraestatal do crime.
   Não há como vislumbrarmos um evento desta proporção em cidades sem condições boas de transporte, hotelaria e alimentação. Para se ter uma ideia, Munique durante a copa de 2006 recebeu pouco mais de 7 milhões de pessoas. Até mesmo prostitutas foram contratadas de outros países para "atender" aos visitantes e albergues foram improvisados em grandes praças ou quadras esportivas públicas. 
   Tomo por base a cidade em que vivo, Belo Horizonte. Em dezembro do ano passado realizei uma cirúrgia no joelho e após esta teria que permanecer em um hotel por alguns dias. Devido a um concurso público realizado na cidade naquele fim de semana, demorei cerca de um dia inteiro para encontrar um hotel com vaga disponível. Em dias de grandes jogos no estádio Magalhães Pinto as vias de acesso ficam sem condição de tráfego e se o indivíduo não sair com horas de antecedência chega atrasado ao evento (ou a qualquer outro lugar). Há muito o que se melhorar ainda. Muito mesmo! Nossos aeroportos são pequenos, falhos e possuem capacidade reduzida. Nossas rodovias permanecem em péssimo estado de conservação (salvo algumas exceções). Além de outros pequenos detalhes que nos fazem padecer diariamente. Contudo, ao final, todos seremos beneficiados com estas mudanças na infraestrutura do país.
   Existe ainda outro fenômeno muito útil para a população (especialmente para os do Rio de Janeiro) que é a derrogada armada do poder paralelo do tráfico de drogas. "Criadas" a partir do descaso e de políticas públicas questionáveis, as favelas cariocas eram locais de total ausência do poder legítimo estatal. Jean-Jacques Rousseau ficaria extremamente decepcionado se descobrisse que existem locais como os morros cariocas onde seu contrato social não tinham nenhum valor. Por anos e anos o povo assistiu de perto e pela TV as ações destes "terroristas urbanos" e a incapacidade das forças policiais de agirem (ou a complacência destes - tema para outro artigo). Fato é que com a proximidade da copa (e das Olimpíadas no caso específico do Rio), as autoridades públicas se viram forçadas a mudar esse quadro de horror. A investida fortemente armada transmitida ao vivo pelas emissoras de rádio e TV nos fez retomar um sentimento de nacionalismo (não aquele do futebol, mas o verdadeiro, algo parecido com o movimento dos "caras pintadas" e o impeachment de Collor) e de restauração do poder público estatal.
   Sinto-me profundamente grato aos delegados da FIFA (mesmo com denúncias de corrupção nas votações) que elegeram o Brasil como sede da próxima Copa do Mundo. Eles não calculam o bem que fizeram para todos os brasileiros. Mesmo que forçosamente, nossas vidas irão mudar, e pra melhor! Viva a Copa!
   "190 milhões em ação (dados atualizados pelo Censo 2010)... pra frente Brasil...salve a Seleção!"
   

Guilherme Abreu

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