Links Úteis

terça-feira, 21 de setembro de 2010

A importância da expansão curricular



         Seja a escola ligada institucionalmente à igreja, a um regime totalitário ou, nos moldes atuais, laica e em uma forma de governo democrática (a despeito do valor democracia ser algo frágil na América Latina), esta possui um papel fundamental na formação do conjunto de componentes que compõem o ser humano. A legislação brasileira qualifica a criança (até 12 anos) e o adolescente (12 aos 18 anos) como “pessoa em desenvolvimento”. De fato, melhor conceito não há para designar tais sujeitos. E como afirmado supra, a escola representa um papel preponderante no desenvolvimento destas pessoas aliada à sua família.
            Sob pena de incorremos em um clichê tão banalizado em um Brasil eleitoreiro, podemos afirmar que tais “pessoas em desenvolvimento” são o futuro de nossa nação. Gustavo Ioschpe (Veja – Ed. 2181 – pág. 120-121) atesta tal pensamento com as seguintes palavras: “Mesmo que mantenhamos a inflação sob controle e o superávit primário; mesmo que resolvamos todos os gargalos de infraestrutura e que tornemos a tributação mais racional; mesmo que acabemos com a corrupção, os problemas na saúde pública e a violência urbana; ainda assim não nos tornaremos um país de Primeiro Mundo se continuarmos formando tão pouco jovens e com qualificação tão baixa”. Nosso futuro reflete diretamente em um espelho pedagógico. Formar e qualificar a juventude são os pilares de toda a estrutura de um país sólido. Não há que se falar em obras faraônicas de grande visibilidade (claramente vislumbradas em um país onde se confunde governo e partido). Basta uma simples análise dos países ditos de primeiro mundo para constatarmos que nenhum deles atingiu seu ápice através de grandes intervenções e direcionamento das verbais estatais para obras públicas, mas sim com maciço investimento na educação.
            Superado dilema do administrador, tal seja, investir em educação ou obras públicas (ou publicitárias?), devemos nos aprofundar no tema e questionar quanto aos parâmetros de tal formação educativa. Devemos formar e qualificar cidadãos (seguindo um conceito moderno de cidadania). O indivíduo deve adquirir conhecimentos no campo científico para se especializar e buscar sua subsistência com dignidade através do labor.   
Entretanto, tais conhecimentos ainda não são suficientes para formamos cidadãos pós-modernos. O Estado deve ensinar o indivíduo a conhecer a si mesmo, a compreender as diferenças e ser tolerante, a dialogar, a obedecer às normas estabelecidas e ter ciência de suas responsabilidades, a observar o contexto social ao seu redor e saber questionar e a entranhar em sua mente uma cultura pacífica de solução dos problemas.
Neste sentido, Ulisses Araújo (2004):
“Entrando no terreno da educação para a cidadania, em seu sentido tradicional a cidadania expressa um conjunto de direitos e de deveres que permite aos cidadãos e às cidadãs o direito de participar da vida política e da vida pública, podendo votar e ser votado, participar ativamente na elaboração das leis e exercer funções públicas, por exemplo. A cidadania no sentido que a entendemos atualmente, porém, pressupõe não apenas o atendimento das necessidades políticas e sociais, com o objetivo de garantir os recursos materiais básicos para dar uma vida digna às pessoas. Para que ela se configure e permita a participação de fato na vida política e na vida pública da sociedade, é necessário que cada ser humano desenvolva as condições físicas, psíquicas, cognitivas, ideológicas e culturais indispensáveis para atingirmos uma vida saudável.”¹
“A escola que conhecemos tem seu grau de responsabilidade neste processo de formação que ignora a importância das relações interpessoais e dos conflitos para a formação integral dos seres humanos. Um currículo com base apenas no mundo externo e umas limitações espaço-temporais que justificam as dificuldades que se impõem ao trabalho com as relações humanas fazem com que os sistemas educativos não cumpram com um importante papel que lhes é atribuído pela sociedade: o da formação de cidadãos e cidadãs autônomos (as), que tenham as competências necessárias para lidar de modo ético com seus conflitos pessoais e sociais.”²
      Ainda, Lima e Lemos:

“É importante, além dos conhecimentos explicitados no currículo real, estimular também a mudança de comportamentos por meio da aquisição de valores, que, por sua vez, reverterão em atitudes e habilidades de pensamento. Nesse contexto, portanto, não basta, simplesmente, transmitir os conteúdos. A questão principal está em investigar de que forma esses conteúdos serão importantes na prática do educando em seu cotidiano. Se considerarmos que a escolaridade não se resume apenas à transmissão de conhecimentos, o currículo não pode desconsiderar o caráter social e moral que a instituição escolar possui de desenvolver habilidades, tais como fazer pensar, sentir, atuar e se expressar em um grupo social. Nesse processo, o meio escolar ganha relevância, uma vez que a própria experiência de aprendizagem se torna conteúdo curricular; entretanto, vale ressaltar que, sem cultura acadêmica, não há funcionamento intelectual possível.”³



Referências Bibliográficas

1 - ARAUJO, Ulisses F. Assembléia escolar: um caminho para a resolução de conflitos. São Paulo: Moderna, 2004. p.14.

2 - ARAUJO, Ulisses F. Assembléia escolar: um caminho para a resolução de conflitos. São Paulo: Moderna, 2004. p.19. 

3 - LIMA, Marceline de; LEMOS, Maria de Fátima, Revista Dialogia, São Paulo, v. 5, p.149, 2006 


Guilherme Abreu

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Locations of visitors to this page